O Cotidiano de Manoel
Você sabia que para escrever a história, historiadores fazem análise de documento?
Eles reúnem textos do período que estão estudando e a partir deles fazem intepretações do passado. Esta será a sua tarefa: desvendar as pistas da documentação e criar uma narrativa para contar a história de Manoel Luis Leal. Para isto, siga as etapas abaixo. Quando tiver reunido todas as pistas possíveis, é hora de criar sua narrativa!
Manoel foi um africano que viveu na ilha de Santa Catarina na metade do século XIX, hoje conhecida por Florianópolis/SC. Como você deve imaginar, nosso personagem teve várias experiências na cidade.
Primeira Etapa
Os documentos nos deixam apenas pistas da trajetória de Manoel. É o nosso olhar atento e questionador ao fazer a leitura dos mesmos que pode nos dar indícios de sua experiência na cidade de Desterro. Foi Joaquim Amaro de Sousa, companheiro de moradia de Manoel, quem apresentou ao Juízo de Órfãos e Ausentes os seus pertences para inventário:
1 coberta, 1 manta escura, 1 chale, 1 fronha de crivo, 2 camisas brancas, 1 par de ceroulas, 2 toalhas de crivo, 1 lenço branco de crivo, 1 cortinado de talagarça, 1 chapéu, 1 imagem de Nossa Senhora da Piedade, 1 marquesa em mau estado, 1 facão, 1 par de meias, 1 colcha de chita, 1 lençol, 1 cobertor em mau estado, 3 travesseiros, 1 par de botinas em mau estado, 1 viola em bom estado,1 baú de pau,1 caixa velha com roupas velhas,1 mesa pequena em bom estado.
Fonte: Processo de Autos de Arrecadação dos Bens de Manoel Luiz Leal, 1879, Desterro, Capital da Província de Santa Catarina, fls. 3-3v.
A partir destes itens, você consegue imaginar a casa em que moravam Manoel e Joaquim? Ali constam roupas de cama, móveis comuns para uma residência como mesa e cortinas, além de vestimentas próprias de Manoel. Busque no google imagens dos itens que você desconhece.
Também há alguns pertences que não são tão comuns assim. Agora faça um inventário com estes itens e escreva ao lado quais seriam seus possíveis usos por Manoel.
Segunda Etapa
No dia 26 de abril de 1879, chegou às mãos do escrivão José de Miranda Santos, responsável pelo processo de arrecadação de bens de Manoel, outro documento pertencente ao seu espólio, que Joaquim Amaro de Sousa havia encontrado e o entregou. Tal documento referia-se a escritura de um terreno no município de São José, do outro lado da baía da ilha de Santa Catarina:
Declaro eu Bernardo Luiz de Espindula e minha mulher D. Maria Rosa de Luz, moradores na ponte de Imaruim distrito desta cidade de S. José, que nesta data vendi ao preto liberto Manoel Luiz, morador no Saco dos Limões pela a quantia de sessenta mil reis (60#000) que nesta data me entregue em moeda corrente do Paiz, uma pequena chacra [chácara] situada no lugar denominado (Picadas do Norte) contendo vinte e cinco braços (iguais a cincoenta e cinco metros) de frente, com oitenta braços (iguais a cento e setenta e seis metros) de fundos, mais ou menos.
Fonte: Processo de Autos de Arrecadação dos Bens de Manoel Luiz Leal, 1879, Desterro, Capital da Província de Santa Catarina, fls 16
Tempos depois, quando os pertences de Manoel estavam sendo avaliados para venda de seu espólio, descobriu-se que naquela chácara havia algo mais. Será que você consegue compreender o que o escrivão registrou sobre isto?
Fonte: Reprodução do Processo de Autos de Arrecadação dos Bens de Manoel Luiz Leal, 1879, Desterro, Capital da Província de Santa Catarina, fls 58.
Lá também havia árvores frutíferas, descritas na avaliação como cafeeira, laranjeira e bananeira.
Agora reflita: qual seria a importância desta chácara para Manoel? As experiências de Francisco e Antonio podem te dar mais pistas. Enquanto isto, crie um desenho de como seria este terreno, pode ser interessante para a sua narrativa.
Terceira Etapa
Já sabemos que Manoel compartilhava uma casa com Joaquim Amaro de Sousa. Aonde eles viviam? O escrivão do documento especifica:
Pelo presente chama-se e cita-se aos herdeiros ou sucessores do finado Manoel Luis Leal de nação Mina, falecido afogado, que foi morador no lugar determinado “Saco dos Limões”.
Fonte: Processo de Autos de Arrecadação dos Bens de Manoel Luiz Leal, 1879, Desterro, Capital da Província de Santa Catarina, fls 22.
Manoel morava no Saco dos Limões. Ao que tudo indica, naquele período o caminho para esta localidade iniciava-se na rua da Toca, no sul da Ilha de Santa Catarina. Observe o mapa de Desterro no século XIX. Encontre a rua da Toca, você perceberá que é distante da parte central da cidade.
Fonte: RASCKE, Karla Leandro. “Resolveo a mesa que pelo menos houvesse huma missa resada”: festas, procissões e celebração da morte na Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos em Desterro/SC – 1860 a 1890. 2009. 90p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) – Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, p. 24.
Já a chácara que pertencia a Manoel ficava do outro lado do mar, em São José. Os documentos nos trazem um indício de como ele se locomovia entre suas propriedades:
Tendo vindo ao meu conhecimento que na noite de hontem, o preto de Nacionalidade Africana, de nome Manoel Luis Leal fallecera afogado na bahia dessa Cidade em consequencia de ter desviado a canoa em o qual se transpunha para este porto, lugar de seu domicilio.
Fonte: Processo de Autos de Arrecadação dos Bens de Manoel Luiz Leal, 1879, Desterro, Capital da Província de Santa Catarina, fls 2.
Com estas pistas você já deve imaginar algumas experiências que Manoel tinha vivendo como um homem liberto no sul do Brasil em meados do século XIX.
Os trechos que você acabou de ler se referem a Manoel como preto de nacionalidade africana ou de nação Mina. Estas eram algumas identificações dadas a estes sujeitos no período. Talvez Augusto possa lhe ajudar a compreendê-las: vá até o ponto de sua trajetória.
Agora você está pronto para criar uma narrativa que conte a história de Manoel!